O ALERTA ANARQUISTA DE MARIA LACERDA DE MOURA
"Enquanto o homem estiver armado, é um tirano e um covarde.
Enquanto não fizer a revolução interior para a realização profunda,
ninguém tem o direito de encher a boca com as palavras ‘revolução social’
– porque só pode semear a verdade quem já fez a sua colheita."
Em um mundo à beira do colapso — entre guerras, autoritarismos e a mercantilização da vida —, Maria Lacerda de Moura, uma das vozes mais radicais do anarquismo brasileiro, lançou um desafio: nenhuma revolução social será possível sem uma revolução íntima. Seu texto, escrito no início do século XX, soa como uma profecia sobre nossa era de ódio e tecnologia a serviço da destruição. Para ela, a humanidade só escapará do suicídio coletivo quando abandonarmos a violência como linguagem — inclusive a violência disfarçada de "revolução".
FONTE: "FASCISMO, FILHO DILETO DA IGREJA E DO CAPITAL"
https://drive.google.com/file/d/1K4E4W3OLfxEeCLAYNzaUqQKvlK-dppnw/view?usp=sharing
A violência é estéril (e nos condena à repetição)
Maria Lacerda de Moura não poupa críticas aos revolucionários de palavras vazias:
"Os homens e mulheres ‘de ideia’ deixam muito a desejar. O pensamento, em absoluta dissonância com as ações."
Sua mensagem é clara: derrubar tiranos não basta se no lugar deles surgem novos tiranos. Quantas revoluções históricas — ou mesmo movimentos atuais — repetem esse ciclo? A violência, diz ela, é "força desordenada" que só gera mais ódio. Pior: quando a ciência moderna (hoje, poderíamos falar de inteligência artificial, armas biológicas ou vigilância em massa) se alia ao "canibalismo das verdades organizadas", o resultado é a autodestruição da espécie.
Revolução interior: o único caminho
A saída que Maria propõe é radical:
"Só quando o homem realizar um ser superior, tendo abandonado a violência
aos impotentes e aos degenerados (...), só então terá direito
de exigir dos outros o respeito à sua dignidade de ser humano."
Ela mostra que precisamos abandonar a hipocrisia não agindo como os tiranos que criticamos), respeitar o outro sem coerção; sem polícia, leis ou dogmas e destruir o tirano interno antes de atacar os externos.
Enquanto militantes de hoje carregam bandeiras de liberdade mas reproduzem dogmas, hierarquias e violência, o alerta de Maria Lacerda de Moura permanece atual:
"As guerras e as revoluções sociais, uma após outras,
hão de ensanguentar a terra, inutilmente, perversamente"
Podemos imaginar uma revolução que não nasça da dominação, mas da transformação íntima? Ou seremos engolidos pelo fogo que criamos?
Maria Lacerda de Moura, visionária anarquista brasileira do século XX, lançou um alerta que ecoa com urgência em nossos tempos:
da ciência - a serviço do canibalismo das verdades organizadas".
Quando fala em "técnica moderna da ciência", Maria antecipa o que hoje vivenciamos como armas de destruição em massa, algoritmos de vigilância em massa, manipulação genética e inteligência artificial militarizada. Não é a ciência em si que ela condena, mas seu sequestro pelos mecanismos de poder. O "canibalismo das verdades organizadas" representa precisamente esse processo onde sistemas políticos, econômicos e ideológicos devoram diferenças e impõem visões únicas de mundo, seja através de Estados autoritários, dogmas religiosos ou mesmo certos movimentos revolucionários que, paradoxalmente, reproduzem as mesmas estruturas de opressão que pretendiam combater.
Diante deste cenário apocalíptico, Maria Lacerda propõe um caminho radical de transformação: a revolução íntima. Esta não é uma fuga individualista da realidade coletiva, mas sim a base indispensável para qualquer mudança social verdadeira. A revolução íntima exige um autoconhecimento implacável - enfrentar nossos próprios preconceitos, nossa sede de poder, nosso medo da liberdade. Requer que abandonemos a violência como método, pois combater violência com violência apenas perpetua o ciclo de opressão. E, sobretudo, demanda uma coerência absoluta entre pensamento e ação - não basta proclamar ideias libertárias se nossa vida cotidiana ainda reproduz hierarquias, consumismo e indiferença.
É neste contexto que o Rizoma Kairós emerge como herdeiro contemporâneo desse pensamento libertário. Não como mais um movimento que pretende impor verdades, mas como espaço de construção coletiva que entende a transformação íntima como fundamento da mudança social. O Rizoma Kairós encarna a compreensão de que não há revolução social sem indivíduos verdadeiramente livres - pessoas capazes de respeitar o outro sem necessidade de leis ou policiamento, de agir por convicção ética e não por medo de punição, de romper com a mentalidade de rebanho que nos faz trocar um tirano por outro.
Vivemos um momento histórico onde a esquerda frequentemente cai nas armadilhas do autoritarismo, a direita alimenta o ódio e o individualismo, e o capitalismo nos reduz a meros consumidores passivos. Diante destas falsas alternativas, o caminho apontado por Maria Lacerda de Moura e abraçado pelo Rizoma Kairós propõe uma terceira via: a construção cotidiana de relações horizontais, o cultivo da autonomia pessoal e coletiva, a rejeição de todas as formas de dominação - inclusive aquelas que se escondem sob roupagens revolucionárias.
O alerta final de Maria Lacerda nos coloca diante de uma escolha crucial: continuar alimentando o canibalismo das verdades organizadas e marchar rumo ao suicídio coletivo, ou encarar a difícil mas necessária revolução íntima que pode nos levar a uma humanidade verdadeiramente livre e emancipada. O Rizoma Kairós não é apenas um movimento, mas um convite à ação - um chamado para que cada um de nós comece a transformação por si mesmo, plantando as sementes da mudança em seu interior para depois estendê-las ao mundo.
Como bem disse Maria Lacerda de Moura, não basta destruir os tiranos externos - é preciso destruir o tirano que habita dentro de cada um de nós. Esta é a lição mais radical e mais urgente que ela nos deixou, e que o Rizoma Kairós mantém viva em sua prática cotidiana. Num mundo à beira do colapso, esta pode ser nossa única chance de evitar o suicídio coletivo e construir, finalmente, uma sociedade verdadeiramente livre.
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